sábado, fevereiro 11, 2006

Coluna, meio a rir meio a sério

Arrufos…

Pois é, religiosos ou não, os tumultos que tem tomado conta da actualidade jornalística já contam com semanas de extensão. Semanas de ânimos (e embaixadas) inflamadas, cocktails molotof, manifestações multilingues, provocações, re-publicação de cartoons…enfim. O circo está montado e parece que estão a tentar, a todo custo, vê-lo arder.
Pese embora não se perceber muito bem a atribuição de tanta importância a este caso.
[A impressão que fica é que esta é outra – entre inúmeras – manobra de distracção com que os Media nos presenteiam quando algo de muito grave se passa e não querem que as pessoas, coitadinhas, se apercebam (uma questão de misericórdia, portanto)].
A verdade, é que é tão insultuoso caricaturar um profeta, como queimar uma bandeira. Ambos os símbolos tocam o âmago das crenças de dois tipos de sociedade tão distintos, com ideais e valores tão distantes quanto se possa conceber.
Mas se por um lado se exige respeito quanto a uma ideal religioso, deve exigir-se o mesmo respeito quanto a um valor patriótico ou um ideal como a liberdade de expressão, que deve ser usada com inteligência e moderação, caso contrario não servirá ideal algum, a não ser o da estupidez gratuita.
Já é tempo de deixarmos as Cruzadas de parte, tendo em mente que radicais existem em todos os lados e não representam, de forma alguma, a maioria de uma população.
E mais importante que tudo, nunca exigir dos outros o que nós próprios não concedemos. O respeito dos limites mútuos tem de ser contemplado, e o equilíbrio, ainda que por vezes pareça utópico é possível. É uma questão de inteligência, tacto e não agir como crianças, que tentam que o passo seguinte seja sempre mais desconcertante que o anterior. Também das crianças herdou esta questão uma outra característica: a de transformar questões à partida não tão graves quanto isso numa crise internacional.
Os Media ajudam à festa, como sempre. As primeiras horas são sempre vitais, seja no que for, e perdeu-se a oportunidade de desmistificar a questão enquanto ainda havia tempo. A mediatização atribuiu à questão uma importância que, houvera esperteza, nunca teria adquirido.
Tudo isto para dizer que, estou bem desconfiada que se a brincadeira pega moda também em Portugal (e não digo isto de maneira amedrontada) vou um dia muito bem a passar na rua com o meu belo creme de mãos (que por acaso tem uma bandeira da Noruega) e transformo-me na mulher em chamas. Ora, com franqueza…

6 comentários:

Sílvia S. disse...

Fiz este post especialmente para comentares, hein já viste?
Agora não falhes Chevaux Blancs!
Estou a espera desse coment , live from "Bostagan".
Bejinhos

Anónimo disse...

Lol! "a mulher em chamas...". Admira-te!
Realmente esta é uma situação complicada, para ambos os lados. Mas parece-me k isto nao vai ter um fim muito bom, nao senhora...
Mas é como tu dizes, isto tudo passa por uma questão de respeito mútuo e de equilíbrio entre as duas partes, de um acordo de vontades entre as duas culturas tão diferentes entre si, mas na realidade com a mesma origem...
É tal como aquele exemplo que está no museu em Madrid que agora abriu recentemente: de uma figura de jesus a segurar num míssil. E a verdade é esta: se falamos de extremismos, há extremismos dos dois lados, cada um luta por uma causa que pensa ser a sua, qualquer religião ou crença levada ao extremo leva a problemas futuros. Era bom pensar que as coisas daqui para a frente iriam melhorar e que cada um respeitaria a liberdade do outro... e aqui entra aquela célebre frase do teu trabalho: "they say I'm a dreamer, but i´m not the only one"

Muito bem escrito, como sempre... continuo a querer ler coisas destas. Bjinhx ***

Sílvia S. disse...

Essa música foi em tua honra , tu que gostas tanto da Yoko XD.
Beijinho e brigada*

Akuma Kanji disse...

Post mítico com frases míticas. É para valorizar... mas sabes que o meu trauma com espanhóis ainda não está esquecido, por isso vai deixando a criança que há em mim, em paz.
Mas factum es, imagina que se, por exemplo, aquilo do teu creme acontecesse, quantos não seriam os espanhóis que odeiam portugal, que nos iriam espicaçar com as espinhas dos peixes pescados em águas tugas.

Sílvia S. disse...

Epah, és um génio.
Factum es.

Sílvia S. disse...

Ah, e qto. a sermos espicaçados com as espinhas dos "peixes espanhois" de águas portuguesas...
também sobre nós pode cair o pesado fardo da fatalidade XD