sábado, dezembro 31, 2005

Os queridinhos em crítica

I Am a Bird Now – Antony and the Johnsons
Que mais se pode dizer sobre um artista que arrebatou um Mercury Prize que já não tenha sido dito, e melhor, pelas linhas de outros? Resta-me apenas assentir proferindo um “Ámen” em jeito de rendição.
Antony toma-nos de assalto desde os meandros da sua androginia. Este belo ser – metade humano, metade ser de outro mundo – comove-nos pela sinceridade e autenticidade da sua interpretação. Como se tivesse encontro marcado connosco, a cada audição contando mais um segredo; fazendo-nos sentir como os únicos ouvintes da sua música, como que a sós com ele.
Toda a atmosfera concorre para o tom confessional que me parece ser a característica mais encantadora simultaneamente do cantor e do álbum. Antony compõe para nós todo um ambiente que nos envolve num universo intimista. As melodias simples, mas sobremaneira complexas e tocantes chegam até nós não pelos ouvidos mas pelo coração, nunca pelo intelecto. Ainda que o intelecto aprove sem mais delongas. As letras são pedaços de poesia, sem qualquer dúvida. Antony propõe algo mais emocional que intelectual e é um caso imensamente bem sucedido em termos de letra, melodia e voz conjugarem esforços para atingir um fim. Tudo parece condizer, nada quebra esta dinâmica de perfeição singela inspirada no período vintage. De resto é evidente a inspiração em intérpretes como Jacques Brel, Édith Piaf ou Nina Simone ( especialmente em What Can I Do) só para citar alguns mais óbvios; e, claro, nos Blues, estando ainda presente aquele jazzy touch, especialmente na marcação do ritmo.
O tom pungente é constante, sem que alguma vez se torne aborrecido ou de auto-comiseração. Antes um desabafo/confissão que podia muito bem ter lugar num típico bar de música jazz ao vivo enquanto os leftlovers reflectem e se interrogam, buscando algum alento num scotch ao passo que a música parece uma extensão do seu próprio estado interior.
Este álbum desenvolve-se um pouco nessa linha, embora tenha um je ne sais quoi de delicadeza que não permite encaixá-lo por completo nesse cliché.
Os pontos cardeais de I Am a Bird Now são Hope There’s Someone lembrando uma daquelas melodias de caixinha de música onde rodopia uma bailarina; o enigmático e pungente Man Is The Baby: um pedido de liberdade “Set my spirit free”; For today I am a Boy duas palavras: uma pérola, além disso tem certo tom maternal absolutamente encantador. Por fim, e antes que enumere todas as faixas do álbum, Fistful of Love, a faixa que remete para a vertente mais bluesy de Antony. Em suma, este álbum é o encontro perfeito da voz, das palavras e do sentimento.
Um álbum para ouvir de coração aberto.

2 comentários:

Anónimo disse...

Devido á sua teatralidade e indescritível androginia, Anthony apresenta-se p/ uma minoria de gostos mais rekintados e tal cm este Post ñ merece passar em branco. Apesar de nao ser pra kk ocasião á k exaltar em Anthony and the johnsons cm outros o fizeram muito boa musica;) e importa ressaltar k olhando em retrospectiva, ñ é total exagero dizer k, atingiste a perfeição com este post!!:P os 1ºs sao sempre memoráveis,confio k dás sempre o melhor. *^_^*

Anónimo disse...

Um post tão bom k deixas te todos sem palavras, meaning: "speechless" (",)