quarta-feira, março 01, 2006

She Wants Revenge (2006)

DECEIT BETRAIL LIES REVENGE POSSESSION

Podia ser o set up de uma intriga de Tarantino. Mas não é.
Estas são as pedras angulares do debut álbum She Wants Revenge da banda homónima que tem sido acusada de subserviência relativamente aos Interpol e por extensão, aos Joy Division. As comparações são, de facto, inevitáveis; mas numa época em que a tendência musical é retro, quantas linhas podem passar sem que o nome Joy Division, com todo o peso que teve nos anos 80 não seja trazido à tona? Ou até o nome de uma outra qualquer referência...
É desnecessário esse preciosismo. É certo e sabido que todo o bom aluno se esforça por imitar um mestre virtuoso. A questão é, convém que se lhe acrescente alguma coisa que ateste a presença de um cérebro vivo. E dentro destes parâmetros She Wants Revenge não são um fracasso completo. Porque tanto Joy Division como Interpol têm, sem dúvida, o seu “q” de inimitáveis em todo o seu esplendor, a missão de imitá-los torna-se ainda mais complicada.
Provavelmente nem a própria banda tem aspirações tão ambiciosas. Devem, no entanto,
esfregar as mãos por serem comparados (ainda que inferiorizados pela comparação) a bandas tão prestigiadas. Já para não falar que tais semelhanças garantem, de certa forma, a adesão de alguns fans menos "tacanhos" dos ditos colectivos. Não serão, contudo, os primeiros nem os últimos a serem postos de lado por uma suposta “imitação cega”.
Convém dizer que essa opinião extremada é injusta, ninguém consegue penetrar com tanta profundidade o modus operandi de uma banda sugando a seiva de forma tão perfeita e transformando-a em sua. She Wants Revenge não o fizeram. Se o tivessem feito, o resultado seria certamente, melhor!
É verdade que o vocalista arrasta a sua voz como Paul Banks (ou Ian Curtis, quiçá…), e que os títulos – Tear You Apart, por exemplo, soam inequivocamente a Joy Division (Love Will Tear Us Apart). Os recursos sonoros, profundos, quase vindos da cave, vampíricos no limite, são daí provenientes também.
Mas mesmo com semelhanças clamorosas sobra algum espaço para a individualidade. À sua forma mimética de soar, mas sobra. Disconect é a faixa que melhor indica a tentativa de afastamento dos seus congéneres, sendo uma quase materialização sonora de melancolia. São apenas teclas, rodeadas de chuva (ou lágrimas?) e são um indício de que ainda há esperança. Nem tudo é imitação.
Aliás, a banda é extremamente bem sucedida no que toca a encaixar letras nas suas melodias de baixo omnipresente e omnipotente. Por entre o baixo que marca sempre o passo e confere às músicas a sua escuridão figurativa, deambulam alguns riffs de guitarra subtis e harmoniosos que apenas complementam. Raras vezes a guitarra toma o lead da música (o que contraria a “teoria da semelhança”com os Interpol). O tom de voz é forçadamente grave, e as letras condizem com toda esta falta de luz.
You can occupy my every sigh, you can rent the space inside my mind, at least until the price becomes too high”. As letras vão-se tornando a dada altura bastante mais explícitas, emprestando à música uma certa dose de hardness.
Até Disconect não surge nenhum raio de luz para contrariar o breu. Algumas nuances são emprestadas ao longo das faixas por efeitos de sintetizador (como não pode faltar às sonoridades retro). De ressaltar alguns pózinhos de electrónica, algumas reminiscências de Depeche Mode naquilo pode ser a acoplagem do new wave (afinal Joy Division “degeneraram” também eles em New Order…).
Uma audição saudosista, para audiências saudosistas.
7.3/10

Deixo o link do site da banda www.shewantsrevenge.com (hard to guess uh? muito bom graficamente).
Bem como um link directo ao videoclip do primeiro single Sister:
http://www.shewantsrevenge.com/sisterasx.html

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