Contadores de Histórias

Broken Boy Soldiers é o primeiríssimo álbum dos recém aparecidos Raconteurs. Há um par de coisas curiosas neste colectivo. Em primeiro lugar, e deveras dificil de negligenciar, é a presença de Jack White dos "deificados" White Stripes. Em segundo lugar, constatar até que ponto White impõe uma dinâmica a este grupo sem o tornar nuns White Stripes versão inteiramente masculina, sendo a reminiscência dos Stripes tão óbvia.

O que os Raconteurs fazem, então, é uma espécie de equilíbrio premeditado cujo móbil de acção é “nós queremos que reconheçam e associem, e ainda assim ter alguma originalidade”. E conseguem? Sim e não. O que acontece com esta banda não é inédito, uma pessoa não pode deixar de se interrogar qual é a ordem correcta: esta é uma banda de Jack White com um punhado de músicos a dar corpo aos seus rascunhos, ou a banda já estava formada e foi agraciada pela presença de White como argumento de autoridade? A resposta não está inequivocamente patente no álbum. Algumas faixas soam indubitavelmente a White Stripes sem os pratos "irrequietos" e indisciplinados de Meg. Broken Boy Soldier, Store Bought Bones, Together, Call it a Day e Blue Veins transpiram Stripes por todos os poros. Talvez White tenha tomado sob a sua alçada os Raconteurs exercendo uma espécie de protectorado e granjeando à banda toda a importância que a sua presença assegura.

Contudo, os Raconteurs não são uma banda de covers pelo que presenteiam o ouvinte com músicas de qualidade, originais em toda a extensão do termo e, consequentemente, menos imbuidas de "white stripismo". Como seja Steady as She Goes (sem dúvida um dos melhores singles do ano), Level, Intimate Secretary e Hands (possivelmente as mais autênticas, com um je ne sais quoi da despretensão acústica típica do final dos anos 90).Mesmo ao nível das letras, o paralelismo não podia ser mais evidente, mas ainda assim a banda é inteiramente viável, e tem todas as possibilidades de conquistar o público por uma razão muito simples: fans de White Stripes há por aí "à paulada", desejosos por ouvir qualquer coisa que se assemelhe a eles. Por outro lado, os Raconteurs limam algumas arestas mais ariscas dos Stripes, pelo que podem ter apelo para públicos não necessariamente atraídos pela evocação da banda. Resta saber se esta "colaboração" é para manter em álbuns futuros .

7.8/10