White Rose Movement

Venham mais movimentos como este...

Sai hoje um dos début álbuns mais bem conseguidos dos últimos tempos, estou a falar de Kick, dos White Rose Movement, um colectivo que não contraria aquele que tem sido o hype do passado e do presente ano: o revivalismo. Há, contudo, maneiras e maneiras de ser revivalista: Há o revivalismo “cópia insossa”, também chamado “de vão de escada”; há aquele que empresta a vida a um espírito morto, mas não o reanima exactamente, e, há ainda aquele que o renova e o inflama.
White Rose Movement, situa-se, certamente, neste último grupo de revivalistas, captando, prodigiosamente, o espírito da década, sem nunca se deixar emparedar por ele. Tanto assim é, que Kick tem para oferecer uma panóplia de estilos dentro de um mesmo grande grupo. Sem fugir muito à tríade post-punk, new wave e indie-pop, consegue fazer chegar até nós mais do que simplesmente uma das três coisas de cada vez. Possivelmente é a forma como misturam tão bem estes elementos e até a forma como não se esgotam ao fazê-lo que garante tanta variedade.
A primeira faixa, que ao que parece baptizou o álbum, introduz-nos a um elemento chave nos White Rose Movement, a psychadelia. Aliás, esta música destaca-se por completo do restante trabalho, e é definitivamente indicadora de um arrojo muito vincado por parte do grupo. Ao prosseguir na audição de Kick, descobrimos que o restante não se pauta exactamente por Kick, uma faixa estranha, que mistura em si reminiscências tão amplas como as de Orchestral Manouevres in the Dark e até The Cure. De certa forma, nem sequer é cantada, é arremessada amorfa e raivosamente aos nossos ouvidos. Juntamente com Alsatian e Idiot Drugs, constitui o núcleo duro do disco: um conjunto de canções mais pesado, menos dançável e up-beat que o restante.
A leading voice dos White Rose Movement traz, com a sua voz, um enorme mais valia estilística ao constante emanar de carisma da banda, acrescentando ao jeito da purpurina, um brilho extra com um par de idiossincrasias. São elas o carregar nos “R”, dotar falsetes de um tom desesperado (como o exacerbamento de Love is a Number) ou pura e simplesmente articular sons de forma cabalística.
E, apesar do protagonismo do vocalista, o baixo é o verdadeiro grande aglomerador deste disco, é o elemento mais distinto e demarcado que vai desenhando o convite constante a um passinho de dança.Ainda assim, são as teclas que conferem o que nenhum dos elementos anteriores consegue: o privilégio da invulgaridade. Usa-se e abusa-se do sintetizador para desfigurar e robotizar o som.
A queda gótica também marca presença, com Deborah Carne, uma música que se aproxima bastante do que os She Wants Revenge fizeram em Tear You Apart e que descamba num denominador comum chamado Joy Division.
Cruella, é a cereja em cima do bolo, os White Rose Movement sabem atrasar o mais que podem o momento alto do disco, prendendo a nossa atenção até ao último momento.
Um trabalho excelente, que muito embora prime pela originalidade, a capacidade de reinvenção e um arrojo e autoconfiança para lá da Lua, acaba por, a longo prazo, se tornar cansativo, porque precisamente convida a que o ouçamos quase sem descanso.

9/10

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