domingo, abril 23, 2006

Agostinho seria centenário



No ano do Centenário do Nascimento de Agostinho da Silva, e no mesmo mês em que ocorreu a sua morte, em 1994, não posso, também eu, deixar de fazer uma (humilde) homenagem a este vulto tão grande da Cultura e do Pensamento Português.
Autor de obra extensíssima, quer em páginas como em estruturas físicas que ainda hoje se mantêm, Agostinho da Silva é uma figura incontornável que torna o génio acessível às massas com a sua postura sempre tão liberta de pretensões, sempre pronto a estender pontes comunicativas entre aquilo que se supõe ser (talvez acertadamente) as duas margens incontactáveis de uma sociedade.
Confesso que da obra de Agostinho da Silva conheço muito pouco; o primeiro (e único) contacto que tomei com as suas palavras foi já após a sua morte, através da entrevista, passada a escrito, de Luís Machado: Última Conversa com Agostinho da Silva. Este livrinho foi o bastante para me deixar deslumbrada, e, não raras vezes, saudosa da memória de uma pessoa de cuja existência nem sequer me lembro. Mas é aqui que reside a beleza da escrita: ela galga as barreiras da vida e da morte, permitindo a circulação de ideias para lá de todos os limites “físicos e metafísicos”.
Assim, a minha homenagem consiste em apresentar os “extra-ordinários” pontos de vista deste pensador, expostos na última entrevista que concedeu, sobretudo sobre as pedras basilares da vida e das sociedades humanas. A todas elas se referiu Agostinho da Silva com doses equivalentes de simplicidade e genialidade.
São frases que contaminam a minha mente, e com as quais espero também contaminar a vossa ao longo de algumas (ainda não sei quantas ao certo) semanas.

Aqui fica, então, o primeiro excerto - um dos mais cómicos e inesperados que Agostinho providenciaria - e que eu baptizei de “Agostinho, a Imprensa e Calvin” (a imprensa primeiro, como não podia deixar de ser…):

Luís Machado: E dos portugueses, que jornais lê normalmente?
Agostinho da Silva: Leio o Calvin, no Público. Aliás, é sempre a primeira leitura que faço é a do Calvin e do Tigre do Calvin. Acho que, no jornal, a coisa que mais vale é aquilo que está ali; só depois é que vou ver as notícias. Considero aquela invenção do Calvin e do Tigre uma coisa extraordinária.
(…)
L.M.: Portanto isso quer dizer que, no fundo, o seu jornal preferido é mesmo o Público?
A.S.: É o Público, mas sobretudo é por causa do Calvin.
Profetas do Apocalipse...

Sem comentários: