sábado, fevereiro 18, 2006

Meio a rir , meio a sério : Uma visão deseperançada do amor

A natureza do Amor é tema que tem inspirado milhares de autores para escrever milhões de diferentes textos, enredando biliões de pessoas na sua teia.
A minha teoria pessoal sobre ele, é um misto de cientificismo descrente herdado de Kant e da Ciência e qualquer coisa ilógica e desesperançada que não sei de onde vem.O que perfaz uma mistura de qualquer coisa que faz algum sentido para mim, mas não fará para quem lê. Vale apenas o que vale, que há-de ser muito pouco. Ainda assim, atrevo-me a compartilhá-la.
O único amor em que acredito realmente, é o amor dos pais pelos seus filhos, porque o único verdadeiramente desinteressado. Quero dizer, o que ganha um casal – sobretudo um casal dos nossos dias – em alimentar, vestir e educar uma criança com todas as despesas inerentes a essa tarefa? Para além destas, a angústia de nunca se ter a certeza se se é bom pai, se nunca se vai falhar, e o que poderão significar as falhas dos pais no percurso futuro de uma criança. SE, tendo em mente todas estas coisas, dois seres magnânimos se aventuram a faze-lo, é de se admirar (!). Então não é obvio que têm muito mais a perder que a ganhar? E ainda assim, continuam a nascer crianças…
Digo isto meio a sério meio a brincar, mas de facto acredito que o amor dos pais pelos filhos é o que se aproxima mais de um modelo de amor ideal e até divino. Quando tenho dificuldades em conceber a divindade, penso nos meus pais.
Mas o que queria realmente enfatizar com este preâmbulo todo, é que essa data que passou, que supostamente comemora o Amor entre duas pessoas (será que é necessário data fixa para o comemorar?) me fez parar para avaliar de que se trata, de facto, esse bicho, esse monstro, esse mistério metafísico que é o Amor.
Em primeiro lugar, como início de discussão, não estou inteiramente certa de que exista (a não ser na sua versão paternalista). E este ponto geralmente costuma atolar-me. Mas, adiante. Não creio que de facto ele exista, foi obviamente (isto vai soar a uma verdade de “la Palisse”, infelizmente), uma criação convencionada para romantizar a ideia pura e simples de reprodução. O engenho e a arrogância humana é tanto e tão grande, e as suas artimanhas para se esquecer da sua natureza animalesca tão apuradas, que desconfio bem que até que se tenha criado esta ideia malfadada de Amor, o “proto-Homem” não deve ter tido descanso. E assim versam as histórias sobre o nascimento de mais uma bela invenção, para juntar a uma complexa trama de invenções que tornaram a nossa existência bastante mais complicada.
Porque no fundo, o amor não é amor, é, uma conspiração da nossa natureza interior (hormonal, física, mental) com o tempo e o espaço circundantes e muito acaso à mistura. Tenho dito. Podem banir-me da sociedade, proibir o meu contacto com criancinhas, enfim, o que a vossa consciência ditar. Até eu me recrimino por pensar assim, mas penso. Na maioria do tempo… porque ninguém é assim tão monstruoso.
Isto é o que dá escrever a ouvir Radiohead. De qualquer forma, se ninguém tivesse a coragem de expor o que sente não existia Arte. Tudo o que é verdadeiramente artístico é pessoal. E com isto não estou a dizer que escrevi um pedaço de arte, estou só a dizer mesmo o que disse.

7 comentários:

Akuma Kanji disse...

Lembro-me de algo que eu própria disse uma vez: "Não acredito no amor de pais porque é algo que nunca senti." No entanto não quer dizer que não exista. Isto também porque preocupação é uma coisa e amor é outra. Porque é que os pais se dão ao trabalho de cuidar dos filhos? Factum es, todos os pais são diferentes: uns são porque querem e outros são porque são. A verdade é triste e crua: quando alguém te protege nem sempre é amor, quando alguém cuida de ti nem sempre é amor. Depois de se ter um filho, se o matas és criminoso, se o cuidas gostas dele, se o cuidas e não gostas dele estás a proteger apenas o teu posto. É a fama e a ambição que movem o mundo, quanto melhor fores a desempenhar mais e variados papéis, melhor para ti e para a tua carreira.

tatiana disse...

Gostei de ler =)

Pois é, o amor de pais para filhos é incondicional. E por isso talvez te atrevas a dizer que é o único que consideras realmente amor.

Gostei desta parte, "Porque no fundo, o amor não é amor, é, uma conspiração da nossa natureza interior", porque também partilho um pouco desta opinião. Acredito também que o amor nasce da nossa própria solidão. Somos seres sociáveis por natureza. Precisamos dos outros. E a união com outra pessoa, faz-nos (sentir) mais fortes para sobreviver e lutar neste mundo. O amor é a consequência e a justificação de muita coisa. Será que existe realmente? Não sei...

E o amor não era suposto ser eterno? Então porque há tantos divórcios? Ou melhor, para quê é que as pessoas se casam?

Amor, que tema tão complicado! (Ficou particularmente engraçada esta ambiguidade =) )

beijinhos**

Sílvia S. disse...

É mais confortável pensar que existe, mas no fundo o que existe verdadeiramente é a solidão...

Anónimo disse...

epa tu escreves bem. nunca tinha pensado no amor desta forma. é distante da minha maneira de ser.

Joana C. disse...

Que visão tão pessimista do amor. tal como o andré, também é muito distante da minha maneira de ser e pensar.
bjs*

M. disse...

Bem... bom texto! Concordo com eles, escreves de facto muito bem, mas isso acho que já to tinha dito.

O ano passado, quando entrei lá pra FLUL apanehi com um prof que seria o protótipo do prof de universidade que já todos vimos em filmes pelo menos.. fazia-nos trabalhar como se não houvesse amanhã, ninguém sabia muito bem do que é que ele falava, tinha teorias brilhantes e tal como tu, achava que o amor era uma invenção do homem. Lembro-me de o ouvir dizer que o amor, aquele que é declarado ( convencionalmente) entre um homem e uma mulher, esse amor do dia dos namorados, era do mais egoísta que há, de que não se ama outrém, apenas nos amamos através de outro alguém, i.e., o que nós amamos é a sensação de nos sentirmos amados ( era mais ou menos isto) e que era por isso que não havia amores para sempre, porque as pessoas se cansam, porque precisam de novidade, etc..
Tenho a dizer que durante muito tempo, depois destas teorias todas terem ficado na minha cabeça, fiquei a pensar meio como ele, meio como tu. Sem dúvida o amor dum pai por um filho é a imagem, a representação do amor incondicional. Mas isso também me faz pensar que podemos simplesmente estar presos à cultura ocidental, afinal de contas temos ( os ocidentais, esclareça-se) deus por pai e por filho e chamam a isso o amor divino.. não é mais que o amor proprio dum criador pela obra criada... pah pronto, não me quero alongar com religiões e assim, porque nem sequer gosto de falar disso mas foi o exemplo mais flagrante que encontrei. Seja como fôr já pensei o amor dessa maneira, tal como tu a pensas, mas hoje, hoje penso-o duma maneira diferente. Há pessoas pelas quais, além dos meus pais, pelas quais tenho um amor incondicional, que amo sem pedir nada em troca, peço simplesmente que elas se deixem amar por mim, um sentimento tão grande que chega a transbordar, não foi fácil perceber que o podia sentir, mas tive sorte =P
Um dia serei mãe (digo eu agora lol ) de certeza que vou sentir esse amor de que falas, mas não há quem diga que os filhos são uma extensão de nós mesmos?! ( Eu não acredito muito nisso, mas então o meu prof tinha outro argumento forte na teoria do narciso, não?!)

Beijinho, continua o bom trabalho.
Mariana

Sílvia S. disse...

Eu sofro de pessimismo patológico:)