domingo, janeiro 08, 2006

(Ainda...) os queridinhos em crítica

Quando começaram poucos deram por eles, no entanto, o entusiasmo entre críticos atingiu picos. Coldplay deram cartas, surgiram com uma sonoridade clean, extinta nessa fase negra para a música que foi o fim do século XX e o início deste século. Era necessário marcar o passo para o novo milénio, e, a banda foi, sem dúvida, determinante.
Seis anos volvidos, são objecto para epítetos como a “Maior Banda do Mundo”, os “sucessores dos U2” e outros títulos que tais, que no fundo nada mais fazem do que confirmar a perda de individualidade.
Este último avanço para os Coldplay – X&Y it is called – parte de uma premissa interessante, x & y: aquilo que não se vê, aquilo a que se desconhece a natureza.
Como ouvinte, sucede-me algo semelhante. Não conheço a natureza desta nova sonoridade. Sei de onde ela vem, e para onde vai, mas não a reconheço.
Coldplay não soam mais ao clean de outrora, em que Martin despejava o seu interior atormentado em melodias delico-doces, obviamente “importado” dos moods menos inventivos de Radiohead e da confessa admiração pelos The Smiths.
No momento presente Coldplay é a banda que encarna em si o que significa ser mainstream. Se o objectivo era a democratização da sua música, well done boys! De velhotes, a criancinhas, passando por jovens e adultos, todos adoram Coldplay (!).
Não tenhamos ilusões, uma banda que permanece estagnada, e se serve sempre da mesma fórmula, certa do resultado que produz, não tem pernas para andar. Mas o que se assistiu neste colectivo, foi a mudança total e completa de filosofia. Há que inovar, sim. Mas sem estragar elementos que caracterizam.
Na verdade, os decibéis produzidos pelo quarteto subiram de forma directamente proporcional à subida da sua ambição. Seguindo esta lógica, Parachutes terá sido o álbum menos ambicioso mas mais verdadeiro, A Rush of Blood to the Head terá sido medianamente ambicioso e X&Y é-o descaradamente.
À parte de tudo isto, positiva e objectivamente, este álbum não tem a dinâmica dos álbuns anteriores. “Tempos saudosos” esses, em que um álbum desta banda se ouvia de fio a pavio, sem a necessidade de fazer “forward”.
Em A Rush of Blood to the Head é necessário fazer uso do botão algumas vezes e em X& Y demasiadas vezes…
Este último álbum traz uma novidade: um punhado de faixas que parecem absolutamente desnecessárias, incluídas somente para (pre)encher, coisa que, verdadeiramente, nunca tinha acontecido.
Há que ressalvar, no entanto, uma verdade, os singles fortes deste X&Y são de facto muito fortes ao passo que os fracos…são medíocres e periclitantes. (De)caem com uma facilidade incrível se submetidos a uma segunda audição que vise escalpelizar. Apenas algumas faixas escapam à mediania que condena este trabalho.
Aquela que parecia ser uma das features mais contestáveis da banda – as letras intimistas até mais não – não o é mais. Antes demasiado intimista que repetitivo (!). Têm presença cativa dois ou três lugares comuns. A ideia de “fix” e “puzzles“ reina por todo o lado, confirmando a sensação nítida de uma certa fabricação de letras, por oposição ao que antes parecia “straight from the heart”.
Para além dos singles, tocados até à exaustão nas rádios, e do conhecimento geral – (Speed of Sound = lavagem cerebral?) – a faixa que baptiza a Tour, é uma das que não deixa o álbum cair em desgraça completamente.
Resumindo, um álbum de músicas soltas, não um todo coeso, como o eram, os álbuns anteriores. Por outras palavras, Coldplay de muletas…
Será que algum dia retornará à sua essência?

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